ESPAÇO ENTRE ESPAÇOS
Catarina Claro - Pintura
«O artista deve ser cego para as formas «reconhecidas» ou «não reconhecidas», surdo aos ensinamentos e desejos do seu tempo. Os seus olhos devem abrir-se para a vida interior, e os seus ouvidos estar atentos à voz da Necessidade Interior.
Todos os processos são sagrados, se são interiormente necessários.
É a intuição que dá vida à criação. Agindo sobre a sensibilidade a arte só pode agir através dela.
Balanças e proporções não se encontram fora do artista, mas dentro de si próprio.»
V. Kandinsky «Do Espiritual na Arte»
«Espaço Entre Espaços»... Este projecto surge como consequência das transformações internas/externas que ocorreram na minha vida ao longo dos últimos anos. Uma mudança de país, de cultura e de hábitos, levou-me a colocar novas perguntas e sobretudo, a descobrir um outro olhar e outras possibilidades de resposta... Arrisquei caminhos, transformei certezas, encontrei novos “sentires”, morri, renasci; iludi-me, desiludi-me; subi, desci; perdi-me, encontrei-me. E depois o regresso, o tudo e o nada...
Entre caos e ordem, tranquilidade e desassossego, liberdades e limites, o eu e os outros... que espaço entre estes espaços?
Deste “movimento” interior/exterior surgiu a necessidade intuitiva da realização dos projectos “Entre Espaços” e «Espaço Entre Espaços». Estas pinturas “arrastaram-me”, livre de pensamentos e de juízos conscientes, através da emoção do mistério da existência e dos processos de transformação vividos. Estas imagens foram o caminho para conhecer o que acredito de verdade. Ao pintar
permitime o confronto comigo mesma, com os meus medos, com as minhas resistências.
Estes trabalhos são sobretudo a tentativa de contar uma história, são a procura da minha verdade...viagens interiores... caminhos sem fim... processos intermináveis, intemporais... Através da pintura, sou livre para fazer esta viagem infinita dentro de mim...
“Então comecei a ouvir a voz dos pássaros, a brisa entre a folhagem, a ouvir-me a mim, aos murmúrios da minha mente, ao meu coração, aos sinais vindos do inconsciente.(...)
Exteriormente poderá não existir liberdade, mas interiormente tem de haver absoluta liberdade.”
... Eu encontrei essa liberdade na Pintura...
Expoentes Da Cultura Portuguesa
Teresa Nery - Pintura
O tema “ Expoentes da Cultura Portuguesa”, desta mostra de pintura de Teresa Nery, é um desafio, e simultaneamente uma homenagem a figuras, que de uma forma ou de outra contribuíram para a criação da identidade nacional. Em tempo de crise – económica, social e de valores – urge exaltar os nossos ícones (músicos, pintores, escritores…) que pela sua grandiosidade nos proporcionam um permanente contacto com o Belo.
Cada obra desempenha um papel, sendo um fio condutor para o objecto geral da exposição, tendo uma lógica interna própria, observando-se a sua especificidade no cerne das relações estruturais internas dos vários níveis da organização. A forma como a criadora se moveu de uma ideia para outra não introduz apenas um enfoque diferente, também nos pode comprometer no que se refere às relações internas e alterar os valores de que depende o efeito estético da obra.
Toda a obra de arte é passível de interpretações, leituras, e sensações únicas e intransmissíveis, pelo que constitui um microcosmos, exercendo um poder supremo sobre quem frui da mesma, por outro lado qualquer referência às realidades, destrói aparentemente a ilusão estética. Todavia, esta ilusão não é tudo, criá-la não é a finalidade única, nem a mais importante do esforço artístico, pois, no final, não é menos verdade que toda a arte genuína nos reconduz, de forma mais curta ou mais longa à realidade. Estamos perante uma transfiguração da vida que nos permite enfrentar com maior êxito o estado caótico das coisas, extraindo-se da vida um sentido superior.
Nesta manifestação plástica, a arte não é a expressão de qualquer ideia em particular; é a expressão de qualquer ideal que a pintora realiza em forma plástica.
TERESA S. CABRAL
Exposição de Pintura
«Por um lado, a pintura de Teresa S. Cabral é figurativa, canalizando ao mesmo tempo múltiplas expressões: a vida, o movimento, a emoção, a memória, o sonho, o incongruente, a identidade, a intimidade política. E, por outro lado, enigmática, pelo espaço inesperado, e pelas personagens assentes num despertar abstrato».
Joelle Ghazarian
O TEMPO PAROU...
Eles continuam a sonhar...
Paulo Alexandre Coelho
Exposição de Fotografia.
…O tempo parou. Na ilha de Bolama, a três horas de canoa desde Bissau. O quotidiano dos habitantes da ilha foi captado pela objectiva do Paulo Alexandre Coelho, fotojornalista do “Semanário Económico”. Sempre sonhou com África e é nesse continente que quer trabalhar. A oportunidade surgiu através da AMI, que se encontra presente na ilha de Bolama, porta de entrada para o arquipélago dos Bijagós. Foram três semanas, em Dezembro de 2007, onde Paulo Alexandre Coelho conviveu com os habitantes da ilha. Três semanas em que recolheu instantâneos de uma comunidade onde ainda se notam as cicatrizes de sucessivas guerras, onde os rostos endurecidos dos anciãos contrastam com a alegria das brincadeiras das crianças e onde as estruturas básicas estão paradas. Não há água canalizada, nem saneamento básico. Já electricidade só existe para os mais abastados que têm possibilidade de comprar um gerador e pagar o elevado preço do combustível. O hospital funciona nas antigas casas dos enfermeiros, apesar de estar prometida a construção de um novo há algum tempo. Para os cerca de 8700 habitantes do arquipélago dos Bijagós o tempo parece ter parado, mas eles continuam a sonhar…