Junho 2011

EXPOSIÇÕES 
Junho 2011

Anica Govedarica - Pintura 
Henrique Silva Afinidade e Contraste - Pintura 
Laura Ruffinelli - Pintura
João Carvalho Pina 
 “O PREC já não mora aqui - Fotografia
          ESTAÇÃO IMAGEM | Mora

Continuam


Martinho Costa
Da seria “VÖLKERWANDERUNG”- Pintura
Patricia Geraldes
“O grande rio coberto de barcas mortas” - Desenho


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Anica Govedarica - Pintura 

Universo espelhado de dentro de um poço com uma mão tocando as estrelas.

(Ou uma pintora indo para o centro dessa espiral)

É como ir de encontro a uma poça de céu, espelhada como se tivesse nascido num País inventado por homens com uma simbologia fresca, vinda das florestas. Nessa virtude de observar por detrás do confronto do poema.
Porque são minúsculas as sensações poéticas as suas pinturas. Engano do olhar-ver.
Do tamanho de um universo visto na lonjura.
Partículas suaves que se vão amenizando quando vistos de cima. A Nina transmite nas suas telas, a frescura de uma criança atenta para lá do equinócio dos sentidos.

São sistemas de filamentos com a profundidade de um País suspenso, o seu País de tudo e nada, como artista de todos os mundos. A compreensão para lá do fenómeno do tato. Refúgios de contos breves, enlevos de quadros num toque de Miró.
Aqui e ali pequenos voos de pássaros. Aqui e ali uma pegada breve como um verso,  um aceno nessa  pequena partícula.
O Mar absorto do espanto.
Como o seu sentido de humor transmitido de suavidade. A gargalhada unindo os jogos nos seus pontinhos de afetos transmitidos.
Mapa, onde caminham as histórias com um perfume de árvores onde se escondem muitos segredos. 
A Nina e os seus mapas, percursos num infinito de direções como  as migrações de aves canoras que simbolizam a vida nos voos ousados.
Respirando suavemente sobre gotas de orvalho que o vento transfigura na memória e no silêncio da descoberta.
Suavemente no pequeno labirinto dos seus sonhos…
Eis um tesouro que se vai descobrindo.
Eduardo Nascimento






Henrique Silva 
“Afinidade e Contraste ” - Pintura 
Tempo e diálogo
No início de 2009 recebi uma proposta artística de Henrique Silva, onde se introduzia um conceito ligado à codificação da linguagem com origem na cartografia antiga. A partir de uma pesquisa da representação cartográfica dos novos territórios descobertos entre os séculos XII e XV, em que se adoptavam diversificados códigos de representação da espacialidade, que em alguns casos ganhava uma certa simbólica geométrica, o artista questiona este conjunto de representações, colocando-as em diálogo e oposição. Da observação e leitura livre desta informação, Henrique iniciou a construção de um código geométrico e cromático que, depois de ter encontrado uma sequência coerente de representação, dá origem aos primeiros trabalhos deste projecto.
Deste encontro entre o artista e o programador nasceu um diálogo, que se prolongou ao longo de dois anos, com o objectivo de construir uma proposta artística. 
Nas várias reuniões que tiveram lugar no atelier do artista houve ocasião de discutir e observar a evolução do trabalho. Vários momentos marcaram este processo. Assistimos a mudanças, transformações, reinvenção dos códigos, reencontros geométricos, alargamentos da paleta cromática. Como em todos os projectos, o tempo e a reflexão permitiram questionar a obra e afinar a intenção. Algumas fragilidades da primeira proposta ganharam maior solidez e consistência. 
Esta exposição é a manifestação deste processo, que não se encontra terminado. Somos convidados a observar, sentir e caminhar neste momento muito particular da obra do artista. « Afinidade e Contraste »* obriga a uma certa paragem, a um recohimento e a entrar numa nova dimensão sensorial, como se um certo silêncio nos fosse imposto.
Fabrice Ziegler





Laura Ruffinelli - Pintura 

Laura Ruffinelli nasceu na Umbria (centro de Itália) em 1980. Estudou restauro em Roma e Urbino, onde concluiu o Mestrado em Conservação e Restauro. 
Laura adora desde sempre pintar e define as suas pinturas como diários abstractos do seu inconsciente, capazes de exprimir os seus estados de alma. Pinturas, portanto, como visões interiores.
Nas últimas obras as linhas e as formas dissolvem-se progressivamente na profundidade da tela. A pintura é obtida duma maneira induzida, ou seja, as formas saem naturalmente através de subsequentes passagens de cor. A separação entre as partes é evidente, mas a composição cria uma harmonia onde não há elementos que prevariquem; tudo está suspenso num espaço indefinido. As cores não são puras mas sim misturadas entre si, como massas de tonalidade intensa, que se transformam, por vezes, em traços dissonantes.

As exposições colectivas e individuais em que participou, obtiveram grande aceitação por parte do público e da crítica.

“…A minha procura prossegue numa tentativa de dar espaço à cor, de alcançar a profundidade, fazendo emergir da tela sempre novas atmosferas, umas vezes mais indefinidas, outras mais consistentes”.













João Carvalho Pina 
 “O PREC já não mora aqui - Fotografia 
  ESTAÇÃO IMAGEM | Mora
Ao longo de várias semanas, na estrada, à procura daquilo que foi o processo revolucionário em curso (PREC), nos anos 1974/75, que culminou na reforma agrária e no “sonho” de um estado socialista na Europa Ocidental, reconheci no Alentejo de hoje uma região espelho de Portugal, “um país sem memória”. 
Quando explicava às pessoas da minha geração o que estava a fazer, sobre os lugares míticos do PREC e da reforma agrária, nem sequer sabiam o que tinha acontecido na sua própria terra, e isso demonstra que nascemos num país sem uma preocupação colectiva de preservar a memória dos eventos históricos do nosso passado recente.
Continuamos prisioneiros da nossa história longínqua, da eterna grandeza da época dos  descobrimentos, sem olharmos para o que hoje nos identifica como país no mundo, que nos fez chegar onde chegámos para assim podermos entender o que nos acontece no presente e pensar no futuro. 
Foi uma enorme honra poder ter conhecido alguns dos actores principais de um período tão importante na região do Alentejo. Estou profundamente agradecido a todos por terem decidido partilhar a sua história e deixarem-se fotografar, sem terem feito para isso qualquer exigência ou condicionamento. 
Assim, o balanço desta experiência para mim tão enriquecedora, é que o Alentejo tem um potencial social, económico e político que se tem desenvolvido lentamente mas a passo firme.
Sinto que apesar de quase todos os “sonhos de Abril” terem desaparecido com o fim do PREC, os poucos exemplos que restam souberam adaptar-se nos dias de hoje a uma economia de mercado, e que as preocupações políticas das pessoas que conheci não ficaram fechadas em ideais ortodoxos e ultrapassados.
Se voltarmos a olhar para estes espaços daqui a alguns anos, creio que continuaremos a encontrar pessoas com valores fortes, que discutem as suas ideias e lutam pelo que acreditam, faça isso parte de um sonho colectivo ou não. 
Acho que a democracia é o sonho mais bonito que o Alentejo possa estar a viver.

João Carvalho Pina - Março de 2011


Bolsa - Prémio Estação Imagrm 2010
João Carvalho Pina desenvolveu durante o ano de 2010 um projecto documental sobre o que aconteceu às unidades colectivas de produção (UCP) constituídas no Alentejo depois do 25 de Abril de 1974


















Martinho Costa
Da seria “VÖLKERWANDERUNG”- Pintura
Patricia Geraldes
“O grande rio coberto de barcas mortas” - Desenho