Março 2011

Exposição 03/03 - 03/04/11
Giorgia Grippo Belfi
“Eu Canto” - Ilustração

Gilberto Gaspar
“Figuras Fictícias” - Pintura

Eduardo Nunes
“Os Dias de Raiva” - Pintura

Carlos Ribeiro
Instalação e Vídeo

Alburneo
“Apokálypsis” - Técnica mista


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Giorgia Grippo Belfi
“Eu Canto” - Ilustração
Num primeiro contacto com esta exposição, ela conta-nos,  com o  movimento que emana, a história imaginaria de uma mulher, uma mulher que vive e comunica através da sua música, do seu fado e, por ele, vive. 

Há uma clara noção de história e contexto para lá de cada imagem, causando  uma constante ilusão de movimento e som que  mexe verdadeiramente com os nossos  sentidos. 
É de forma original e realmente envolvente que uma realidade quotidiana é apresentada. 
Somos mesmo transportados para o seu interior, como se de um bairro se tratasse, um bairro numa época já antiga mas ainda actual nos nossos imaginários.
A inspiração para estas obras, nasceu do primeiro contacto que a artista teve com a canção nacional Portuguêsa e, talvez, o seu mais marcante património, o Fado. O seu caminho cruzou-se com o destino português e aconteceu fado na vida de uma italiana. 
Sentiu-o numa pequena tasca onde, de forma informal, se cruzou com esta música, foram momentos recheados de sentimento, cantaram-se alegrias, tristezas, amores e traições, saudade e tradições, todos cantaram, todos viveram.
Começou assim a aventura desta artista em Portugal, na busca do melhor modo para partilhar com o mundo o que sentiu naquela noite. Esta exposição é, então, a visão de alguém que se entregou à paixão de melhor conhecer e sentir Portugal, Lisboa, o Fado!




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Gilberto Gaspar
“Figuras Fictícias” - Pintura


«O, answer me!
Let me not burst in ignorance; but tell
Why thy canonized bones, hearsed in death,
Have burst their cerements; why the sepulchre,
Wherein we saw thee quietly inurn’d,
Hath oped his ponderous and marble jaws,
To cast thee up again. What may this mean,
That thou, dead corse, again in complete steel
Revisit’st thus the glimpses of the moon,
Making night hideous; and we fools of nature
So horridly to shake our disposition
With thoughts beyond the reaches of our souls?
Say, why is this? wherefore? what should we do?»

William Shakespeare - Hamlet


A exposição das obras de Gilberto Gaspar na Galeria da Fábrica Braço de Prata é indubitavelmente um momento de charneira na sua obra e permite ao observador mais atento perceber que, na coerência das obras expostas, há novas vias plásticas que se abrem, sem se abandonar um percurso que já se vinha trilhando. Um bom mote para esta exposição de figuras fictícias pode muito bem ser a obra que nomeou a partir de uma celebrizada canção: “E depois do adeus”. No percurso/vida do artista, no período cronológico que marca a feitura das telas apresentadas nesta exposição, houve vários momentos chave, sobretudo dois acontecimentos charneira que reservaremos aqui, mas que não podem escapar ao “espectador” que gosta de procurar sentidos no que é mostrado e que quase que induziram Gilberto Gaspar a uma paragem, certamente fácil, que o artista rejeitou, que trocou por uma reflexão, se obrigou a prosseguir e sobretudo a registar plasticamente o seu percurso e as suas inquietações de um período em que de alguma forma se tornou num pintor nómada. 
Depois do adeus, depois das despedidas, no dia seguinte, a música volta a tocar, e porque não da Sinfonia n.º 6 “Patética”, o Allegro com grazia, de Piotr Tchaikovsky, que com os seus instrumentos de eleição, os pincéis também procurou interpretar, numa reflexão que se transporta para a tela, objecto alvo da catarse. De repente, inopinadamente houve a percepção que novos caminhos plásticos estavam a ser trilhados.
Antes de mais verifica-se que houve uma alteração no suporte. Efectivamente, de há algum tempo a esta parte que o autor vinha substituindo a tela, como suporte habitual, por tecidos já estampados que trata de forma a conferir-lhe a solidez e perenidade necessárias para servir de base à pintura e que depois transforma.


A iconografia também muda, nas primeiras obras o elemento feminino é o elemento central, com momentos de rara sensualidade, visível em obras como “Bela Adormecida” ou “Flora”.
Depois, embora a mulher não deixe de estar presente e ser uma e outra vez revisitada, novos temas são buscados. As ausências que o pintor sente são colmatadas por figuras fictícias, por amigos que se abraçam, por novas cumplicidades evidenciadas nas obras, por vezes perturbantes, que remetem para o transcendente, para uma protecção inexplicável dos que partiram e continuam na nossa vida, que nos continuam a proteger, a acarinhar e a aconselhar, num diálogo que não é interrompido. Coteje-se aliás estas pinturas com um espantoso retrato póstumo, realizado pelo insigne pintor maneirista Giorgio Vasari, de Lourenço o Magnífico onde este príncipe florentino surge confrontado por uma máscara que lhe parece segredar ou, melhor, compare-se o que é titulado de “Beijos fraternais” com as descrições da aparição do rei, pai de Hamlet, na obra homónima de William Shakespeare.
Há ainda lugar, na pintura de Gilberto Gaspar, para a esfera do onírico, para o mundo inefável dos sonhos onde nada é impossível e até o voo é praticável, podendo as figuras pairar sobre percursos esotéricos, verdadeiros anjos sem asas.
Por fim, mas não menos importante, refira-se que a presente exposição marca uma profunda mudança na forma de registar o mundo de Gilberto Gaspar. Nas primeiras obras há uma clara evidenciação de competências plásticas, embora sem jamais se cair no academismo, enquanto nas obras mais recentes, não que essa capacidade técnica deixe de estar presente, mas cessa de ser uma preocupação e o pincel passa a fluir de outra forma, prendendo-se muito mais à expressão, de tal forma que o pintor não sente sequer a necessidade de as figuras que pinta tenham que ser anatomicamente possíveis.
Que bela forma de ajustar contas com a Vida…
Paulo Morais-Alexandre
Professor de Problemas da Arte Contemporânea e História da Arte na Escola Superior de Teatro e Cinema; Doutor em Letras, especialidade de História da Arte pela Universidade de Coimbra



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Eduardo Nunes
“Os Dias de Raiva” - Pintura


O que me interessa na pintura é a capacidade de respirar.
É como um diafragma que carrega identidades e emoções e deixa passar para os nervos aquilo que vedadeiramente os electriza.
É uma parede translúcida que respira sorrisos esgotados.
É um olhar através da côr e do riso que se torna movimento.
É a negação da banalidade.
A pintura relativiza o absurdo, é o refúgio da ternura.
Nesta pintura a vontade que chega à mão vem de palavras e sons que rápidamente se transformam em imagens e são concerteza a vontade de muita boca as gritar.
Eduardo Nunes






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Carlos Ribeiro
Instalação e Vídeo

“Fountain”, canalização galvanizada arrancada a uma casa em remodelação, torneira incógnita comprada na Feira da Ladra, cadeira alentejana que sentou várias gerações, terra de um pinhal em desaparecimento, remete, obviamente, para o extraordinário universo de Duchamp. Cita-o. Possui no entanto uma diferente índole. Herdeiro também, em certa medida, dos Readymade duchampianos, conta a “história” de um encontro não de uma escolha sem quaisquer fundamentos estéticos como fazia Marcel Duchamp com os seus Readymade. Os materiais que o compõem, impôs-se-me e organizaram-se no espaço tridimensional compondo uma emoção que na essência aflora aos meus sentidos ecoando como uma bela e poderosa sinfonia de Beethoven. Uma emoção que transportava dentro de mim mesmo sem o saber. 
Transporta consigo não uma história mas as de muitas pessoas que com ele, de alguma maneira se relacionaram. 
Nascida de uma simbiose entre duas peças originalmente autónomas, “Fountain” revela a sua verdadeira natureza deslocando-se pelo espaço periférico à urbe, viajando sem rumo, parando apenas quando um encontro casualmente se parece impor. Procura os “quase lugares” (ver vídeo no CD), aqueles que tangencialmente convivem com os habitantes da cidade porque se encontram esquecidos pela História ou porque apenas existem por uma muito breve fracção do tempo histórico. São espaços que ninguém consegue ou sabe já descrever. Desestruturados parecem estar possuidores de uma entropia que os torna simultaneamente efémeros e duradouros.


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Alburneo
“Apokálypsis” - Técnica mista
Civilização: o Momento

Três níveis de evolução mental no ciclo a que podemos chamar Inferior:

Analogia
Sincronicidade
Magia

Analogia
Estádio de desenvolvimento que permite reconhecer que todas as coisas são, na sua essência, iguais entre si.

Sincronicidade
Reconhecimento, por intermédio da Analogia, das relações que todas as coisas mantêm continuamente entre si.

Magia
Domínio dos factores que determinam as relações que as coisas mantêm entre si.

Alburneo