Nuno Vieira Matos
Ricardo III - Exposição de fotografia
O trabalho proposto resulta da interpretação, por meio da Fotografia, do processo criativo que resulta na encenação pelo Grupo de Teatro de Letras dirigido pelo encenador Ávila Costa da obra de Shakespeare Ricardo III. Tal como o Poder, também Ricardo atrai o Público para a maquiavélica vertigem da conspiração através dos seus monólogos. Nesses momentos, Ricardo apenas partilha o palco com as suas considerações e estas com a nossa curiosidade por uma certa malvadez de conquista. Ricardo espelha-nos. Aumentado o nosso desconforto, começamos a descobrir Ricardo em todas as restantes personagens e há algo de
claustrofóbico em toda esta encenação.
A construção de tal enredo é feita com máscaras após desconstrução não do indivíduo mas da sua percepção dessa mesma encenação. As palavras agrupam-se em frases, que se separam em respirações e que necessitam de intenções sedentas de que o actor esteja lá, na zona. O actor é intérprete e assume a imensa responsabilidade de o mostrar perante nós, sem a rede da escrita, da tela, do papel fotográfico sensibilizado e fixado. Através da fotografia e expondo o resultado de forma quase cronológica, constrói-se uma narrativa necessariamente incompleta. A tensão de palco transmuta-se em suspensão dos corpos no papel e as máscaras são cristalizadas apenas no contexto oferecido pela informação do sujeito fotográfico. De resto, o que se expõe tenta ser tão intemporal como a própria peça, não por uma relação de implicação mas antes porque o tema assim o determina.
Nuno Vieira Matos
Carlos Bechegas
Matéria Viva - Exposição de fotografia
Convivo com as falésias e rochas da Costa Vicentina, desde os primeiros acampamentos na adolescência.
A extensão imponente das escarpas, e o paradoxal micro universo das texturas, nervuras, linhas e fissuras, detalhes descortinados em enquadramentos aproximados, eram um cenário permanente e estimulante, que fui inventariando na memória.
Na continuidade da vivência, segredos foram–se revelando: tonalidades que alteram com o tempo, intensidades e contrastes que se acentuam com a humidade; relevos que desaparecem anos seguidos ocultos na areia da ultima maré viva. Elementos e dinâmicas que seduzem e despertam a curiosidade, porque desenham um conteúdo menos explícito e intangível.
Plasticidades mutantes que escapam ao primeiro olhar.
Resultante de Imagens fixadas em slides sem contributo digital; “Matéria Viva “, nasce, assumindo um vinculo narrativo com a pintura, em obturações fixadas entre o absoluto controle do estúdio, e o acaso do sublime momento irrepetível; dispensando a dualidade, luz - sombra; as nuances subtis da profundidade de campo e o contraste, elementos centrais duma proverbial captação. Uma abordagem à descoberta da expressão orgânica da matéria. E da natureza.
Betânia Viana Pires
Exposição de pintura
E tudo começa com uma dor de dentes…
... Com um método de arqueologia invertida, em que se constroem sucessivos espaços bidimensionais uns em cima dos outros, quase sem deixar nenhum vestígio. Estas arquitecturas planificadas vão-se revelando por esta estratificação gradual da cor, assumindo finalmente um carácter de cenário bidimensional.
E neste cenário aparentemente aleatório (mas que ao qual corresponde um trabalho exaustivo de procura de/ e composição com cor) habitam figuras que, ora se interligam de forma a constituir uma narrativa, ora respiram quase como mero ornamento ou detalhe crucial à própria composição da pintura; sempre comunicando (quer por harmonia quer por contraste) com as áreas de cor que as envolvem (cenário).
Estas figuras e símbolos funcionam como signos cujo significado é relativo a sensações físicas, histórias e ideias que assim tomam forma, numa narrativa secreta: tratam-se de objectos recorrentes ou preciosos que carregam em si uma dicotomia entre uma estética aprazível e uma funcionalidade/ simbologia agressivas. Aqui, a teoria Freudiana da sublimação pela prática artística é recuperada (se bem que não é intencional), assim como alguns valores estéticos do Neo-Figurativismo português dos anos 50. Assistimos portanto a uma espécie de encenação num palco onde actuam ideias afi(n)adas.