Joana villaverde
Exposição de Pintura
“On doit toujours s’excuser de parler peinture”
Paul Valéry
Sao variações, uma mulher nua, despida, crua, num lado qualquer. São desenhos a pastel sobre papel normalmente de 150 cm X 120cm. Agora a mulher está num espaço sem espaço, não está em lado nenhum. Às vezes parece-me um bicho, outras melhor, uma mulher crua.
Quero saber se a posso por em vermelho, se a posso por em azul, se a posso vestir, se ela se zanga, se se ri, se sai do papel e vai por aí a fora, se se transforma.
Vou ter que descobrir como ela olha e como é olhada, é vista de onde? Olha para onde?
Está sempre em lado nenhum? Vai passar a estar em algum sítio? Tem força para fazer alguma coisa? Faz alguma coisa?
“To use again and again the some gestures and forms is not deemed a failure of imagination in a painter (or a choreographer) as it might be in a writer. Repetitiveness seems like intensity. Like purity. Like strength.”
Susan Sontag
A mulher aflita
Sobe-se a escadaria da antiga Faculdade de Ciências- junto ao jardim botânico onde tantas vezes brinquei com a minha mãe ou a minha madrinha.
Os degraus estão agora encardidos dos passaros e torna-se manifesto que os limpam pouco.
Avança-se por velhos corredores, espessos, sem sol, frios.
Atravessa-se as salas deo Museu de Historia Natural, onde se acumulam pedras lindissímas.
E lá dentro, por fim, encontramos uma mulher.
Essa mulher deve-se à pintura, menos às cores do que à dinamica dos traços de Joana Villaverde.
É um circulo que está quase a fechar-se, mas que encontra aqui o seu apogeu.
Esta mulher, com outros rostos, acompanha o percurso discreto mas incisivo, da artista.
Entramos por aquelas paredes repletas de segredos gelados e começamos por ver partes de um rosto, um nariz, uma orelha, vistos de tão perto que se tornam exorbitantes e incomodativos.
Mas o que impora é o sentido envolvente das linhas aqui reforçadamente circulares, ali penetrantes e capazes de entararem por um corpo dentro. Até à noite dos corpos.
É aqui que um corpo começa a ganhar sentido, quase sempre obsceno, a saír de cena: corpo de boca voraz, corpo onde os outros se podem rever como espelhos que encontram em cada um de nós os espaço que os oprime.
É esse aspecto de aflição que emerge nesta mulher que se expõe sem pose.
Nalguns quadros vemos uma cabeça demasiado grande sobre um corpo que se vai reduzindo até se apoiar apenas na fragilidade dos pés descalços.
Noutras vezes, o calor chega pela violência das cores envolventes.
Nenhum erotismo, nenhuma voz que vá além do murmurio.
Todas as falas são apenas um movimento dos olhos.
São os olhos que nos vêem e emudecem.
Neste percurso em que o chamamento de uma mulher vem apenas de um conjunto de traço comprimidos, de paredes vazias onde por vezes ela se encosta ou mesmo se esconde, pressentimos um mundo que está atravancado, mas que cria esse excesso por um escesso de vazio.
É uma dimenção politica que se abre no interior dos corpos e nos narra o que os devora.
A última imagem é particularmente interessante.
Aqui é uma mulher que se enrola no interior de uma moldura e o quadro parece estar ali a esmagar a protagonista.
É a a última partícula de um processo em que a pintura exerce todos os seus poderes e a mulher ao deixar-se pintar, aceita a sujeição de um corpo a todas as instancias que a podem submeter, desde os traços e as cores até ao domínio dos espaços, programando o tempo e a vida.
É nesta autocritica da pintura (onde um traço estrangula, onde uma voz sussura, a politica dirige, os burocratas concentrcionários territorializam) que Joana Villaverde ultrapassa este ciclo.
Eduardo Prado Coelho in público, 27 de Fevereiro 2006
ArTzine
Exposição colectiva de pintura
A ArTzine é um projecto iniciado por artistas plásticos e amantes da Arte, defendendo uma estrutura sedimentada na representação da figuração como denominador comum...
Na continuidade do trabalho realizado anteriormente (SCRAPP/ Projectos) e em todas as exposições de produção autónoma, mantemos a escolha de locais criteriosamente seleccionados pelas suas características cenográficas, numa estratégia de dignificação das obras envolvidas, de modo a permitir uma sã convivência nos projectos temáticos explorados, que sem fugir ao aspecto comercial, permitem a exposição de obras que habitualmente estariam afastadas destes circuitos.
Nas nossas actividades, temos, de igual modo, estabelecido contactos com galerias privadas e instituições públicas, promovendo e estreitando as relações entre artistas e públicos variados, permitindo uma maior divulgação para os artistas residentes neste projecto, bem como os convidados a participar nas nossas exposições.
Carlos Farinha
ArTzine - Exposição colectiva de pintura
“Não gosto de escolas, não gosto de bandeiras, não gosto de sistemas e não gosto de dogmas; não consigo confinar-me à capelinha do realismo, nem mesmo para ser venerado como seu deus. A única coisa que reconheço na arte é a sinceridade”
Gustave Courbet 1819-1877
Escrever sobre pintura atráves de uma citação de um artista do Séc XIX, pode parecer desapropositado, mas não deixa de ser um ponto de vista legitimo e pertinente numa época onde o homen sem orgão é o seu principal referente. A Sinceridade é do meu ponto de vista, uma necessidade que tento reproduzir, nesse mecanismo de representação que é a Pintura, porque a Arte esta umbilicalmente ligada a pintura numa procura legitima do autor de criar uma illução que provoca ou não uma fruição estetica....se consegui ou não apenas o espectador o podera dizer.
Como Courbet, não gosto de sistemas e de dogmas, um dele é que não faz sentido pintar no séc. XXI ou que ela tem de ser fragmentada, limpa sem ruido ....para min pintar é um processo e um profundo acto de liberdade e de confiança sobre a eterna indefinida definição da palavra Arte.
Carlos Farinha
Gilberto Gaspar
ArTzine - Exposição colectiva de pintura
“Ver um Mundo num Grão de Areia
E numa Flor Silvestre um Céu,
Conter o Infinito na palma da mão
E a Eternidade numa hora.”
William Blake, Augúrios de Inocência
O Verbo, criador, universal faz-nos considerar a Arte não como um privilégio de poucos mas sim uma actividade natural de todo o ser humano. Evoca-se a Natureza e a Arte como uma exigência de relação diatómica sendo esta ligação operante traduzida num impasse. Mostra-nos a Arte na sua limitação, não podendo ela ser uma mimesis em todos os seus aspectos. Uma vez que o homem não é Deus.
Será então á sua imagem e semelhança que ele ludibria a razão de um quotidiano prene, surpreso de vida criativa.
Tudo pode começar por uma linha, um transbordo de comprometimentos e suportes do ofício, generalidades que se embutem no novelo de incertezas pautadas de sentimentos, gestos, coreografados latentes, marcados por fragmentos, apelando a um universo visceral comum ao sujeito e ao suspeito, de olhares instruídos, sensitivos no seu âmago como se de lições de apetite e desejo se manifestassem, continuamente numa linha sem fim.
Texto de Autor. Sobre “Da Pintura”, Lisboa, Novembro, 2009
Gilberto Gaspar
Ilídio Salteiro
ArTzine - Exposição colectiva de pintura
TRATADOS DE PINTURA
Todos os “objectos” são fabricados pelo homem e o seu fabrico precisa do saber de todos os ramos do conhecimento. O conhecimento das humanidades e o conhecimento das ciências juntam-se para os construírem. Estes “objectos” são tudo aquilo que ajuda o homem a suplantar as forças naturais e desse modo habitar e reinar sobre as outras espécies. De todos eles, uns serão comuns, outros serão sublimes, mas todos cumprem o mesmo devir: auxiliar a sobrevivência do Homem na Natureza...
(http://www.arte.com.pt/text/salteiro/tratadopintura.pdf)
Ilídio Salteiro
Luís Herberto
ArTzine - Exposição colectiva de pintura
“Nós e os Outros”. A Pintura apresentada pela própria pintura...
“Nós e os Outros” até poderia ocupar o lugar de uma exposição biográfica, cujas narrativas visuais sucedem a momentos agitados resultantes desta tão dramática arte ...
Aqui, é assumida directamente esta relação do acto com a sua representação, tornando-a directamente exposta. Mais que um dejá-vu, é uma narrativa elíptica que se apresenta a si própria como actor e figurante, tornando de igual modo o “espectador” em figurante de um espaço que pode bem ser o próprio atelier (sendo-o claramente), da sua vida social e dos conflitos resultantes.
E contudo, a sua reconstrução a partir de momentos de contraste rasgados das memorias e vivências das rotinas...
O testemunho visual, pretexto descritivo para o espaço cenográfico, garante-nos a objectividade da composição, em jogos subtis da perspectiva, explorando repetitivamente os locais de configuração e estruturação, construindo, no plano das telas, a afinidade com os modelos, que tanto podem ser ocasionais e derivados de um snapshot instantâneo quer das repetidas sessões de pose e mesmo da apropriação, para o plano da Pintura, de modelos narrativos cinematográficos, como em Va Savoir ou o muito referenciado Le Mépris, nas suas teias de relações pessoais...
Por si, as práticas da pintura de cavalete, remontam já a centenas de anos de exploração, antecipando-se em muito, à fotografia ou à cinematografia. E se a imagem renascentista anuncia o futuro do cinema, este seria impensável sem os referentes que a pintura estruturada nos demonstraram, quer através da perspectiva, nas suas componentes geométricas e ópticas, quer através da simbólica ocidental e de todo o desenvolvimento económico e social nos modelos de comportamento. Por outro lado, quer a fotografia ou o cinema, mantêm ainda intactos (apesar das novas possibilidades que os processos digitais permitem), os mecanismos visuais e perceptivos de construção que asseguram a verosimilhança das demonstrações ópticas.
É o contexto da imagem que sofre transmutações e alterações, pois se a fotografia admite uma captação objectiva de todo o campo visual, e provoca uma verdadeira intrusão ao espaço quotidiano do espectador, impossibilitando, de certo modo, a fuga à verdade da representação no plano da objectividade figurativa. a representação em pintura oferece-nos o poder da plausibilidade (à falta de outro vocábulo), com toda a síntese formal e construção de relações construtivas ideais para a demonstração visual correspondente.
Luís Herberto
Joana Polónia de Barros
Territórios Celestes - Exposição de Pintura
Nuvens, cumulus, pedaços de terra no céu, memórias de um descuido do olhar.
A forma que era já foi…existe agora outra!! É etérea, é matérica, matéria encontrada nos sentidos devolvida à sua essência. É lembrança. É presença!
É esta dicotomia de terra/céu que vou explorando nestes trabalhos.
Maria Leonor Borges
O Outro Lado - Exposição de fotografia
A série de fotografias que aqui vos apresento tem como tema “O Outro Lado”: dez provas gelatina sal de prata, realizadas em 2009, onde surge sempre um espelho, colocado em diferentes locais e ambientes, de forma a reflectir o céu.
“O Outro Lado” baseia-se na ideia de que, por detrás de uma imagem (quer seja pictórica, fotográfica, ou até mesmo especular) existe um mundo, paralelo àquele em que vivemos. Ao fazermos de conta, tal como Alice, descobrimos em cada imagem um universo de sonhos e de fantasia:
“Oh, Kitty, era tão bom se pudéssemos passar para o outro lado da Casa do Espelho. Tenho a certeza de que tem coisas tão bonitas lá dentro! Oh, faz de conta que há uma maneira qualquer de passar para lá, Kitty. Faz de conta que o vidro ficou macio como gaze, para nós o podermos atravessar. Ora, até me parece que está a transformar-se numa espécie de névoa! Vai ser muio fácil passar por ele...”*
Maria Leonor Borges
*Lewis Carroll, Alice do Outro Lado do Espelho, Relógio d`Água, Lisboa, 2000, pág. 159
Joao Paulo Nasri
CAFÉ EUROPA - Exposição de Fotografia
De acordo com George Steiner, uma ideia da Europa pode ser construída tendo o conceito do café como pano de fundo. O café onde uma conversa começa ou uma novela acaba.
Marcando num mapa do mundo os locais onde existem cafés desenhamos o mapa da Europa.
O trabalho apresentado enquadra-se em fotografia artística aproximando-se de uma consciência sociológica. Talvez até um outro olhar à fotografia documental. Usando a técnica digital de dupla exposição, o autor está interessado no espaço gerado entre duas imagens numa mesma fotografia. Este trabalho fotográfico foi realizado entre Lisboa e Istambul (2003-2009), duas capitais europeias que, embora a distância, partilham de uma
mesma atmosfera.
Nasri documenta situações, experiências e perspectivas. Em Abril de 2006 foi convidado a apresentar este projecto no festival Test7 em Zagreb. Nos últimos anos passou por cidades e instalações: Ljubljana(2007-09), Sarajevo (Festival Internacional Sarajevska Zima 2009). Chega finalmente a Lisboa, na sua terceira e última fase, para depois seguir em 2010 para Istambul enquanto capital europeia da cultura.
Residência artística
Um projecto urgente de loucura.
Um acto urgente de loucura é o que quatro artistas pretendem realizar no mês de Janeiro no espaço da Fábrica Braço de Prata.
Residência e Exposição De 11 a 31 de Janeiro 2010
Acções na FBP
13, 16, 23 e 27 de Janeiro - 19h30 (Quartas e Domingos)
A urgência do acto propulsor que leva ao vértice entre a loucura e a sanidade. O que os artistas pretendem? Levanta-se o gesto de um dos performers, as mãos se torcem, se multiplicam em muitos actos que parecem transmitir a necessidade de abandonar o corpo, ou o espaço que este ocupa. A mulher que se encontra em cena e desenha cegamente, a compor com o corpo também os movimentos que dão origem aos traços que formarão o desenho inesperado, tudo em conjunto, todos participantes de um mesmo “work in progress” dedicado à pesquisa da temática relacionada à loucura e todos os abusos cometidos em nome de uma suposta normalidade, a bem dizer imposta. Leva-se a cabo uma pesquisa mais detalhada do tema no que concerne às pesquisas feitas pelo médico francês J.M. Charcot, o qual concentrou toda sua atenção e interesse no que ele denominava de “crises histéricas” nos seus pacientes – na sua grande maioria mulheres.
O peso é perceptível no trabalho destes quatro artistas presentes – há dois artistas que participaram da pesquisa e que por questões geográficas não puderam dar continuidade a esta etapa no Braço de Prata – e uso as palavras ´pesquisa´ e ´etapa´ propositadamente, para que o leitor fique ciente de que é um trabalho em progresso, em trânsito até, visto que os quatro artistas encontram-se neste momento residindo em Lisboa, sítio no qual resolveram intervir e iniciam esta intervenção de modo mais freqüente e esquemático no Braço de Prata – sem contar com as pequenas intervenções urbanas presentes na pesquisa diária que compõe parte do cotidiano destas pessoas; a trabalhar com uma temática extremamente delicada e densa, com o peso extra de fazer um trabalho urgente, de tirar de dentro de si a força e a vontade de produzir arte num mundo em crise, que tanto necessita reflectir sobre as ações das pessoas e as conseqüências que estas trazem para os outros seres.
Cada um dos participantes desta pesquisa trabalha com uma linguagem, um meio, embora por vezes estes se cruzem e intercalem visões poéticas. A performer Anajara Laisa Amarante trabalha com os meios da fotografia e da dança. Denomina-se performer, e não fotógrafa ou dançarina, por transitar entre meios e por não ser especializada em nenhum deles – e nem ter a pretensão de, embora, todos nós sabemos muito bem, a vida nos leve a caminhos nunca dantes pensados por nós, mas as imprevisões conduzem a maravilhas e catástrofes. Veja-se o exemplo dos milhares e milhares de pessoas maltratadas no mundo por suas supostas loucuras, ou por tratamentos negados com a subseqüente criação de outros males. A artista utiliza a imagem fotográfica como meio de expressão de como vê o mundo e também de como vê a si mesma. Quase todas as fotos em que aparece (com exceção de três ou quatro em que aparece com outra pessoa na foto) foram tiradas por ela mesma. As fotos dos outros artistas também assina em sua maior parte. Quanto às performances que serão feitas nos dias marcados ainda ao final deste artigo (sendo sempre quartas ou domingos) dará continuidade a um trabalho em progresso, que tem a ver com uma coreografia apresentada sob direção de Sofia Silva, em que a performer escolheu trabalhar a perda de controle. Ao juntar com outros movimentos inspirados pelas diversas víctimas das doenças mentais (e muitas simples simples dissidências do sistema) pretende apresentar a sua idéia do que é o universo da perda de lucidez.
Para o músico e performer Blu, da dupla Koll Witz, que esteve recentemente em tour pela Europa (a outra artista não pode estar presente agora), o som também dança, assim como dançam os traços ou as estaticidades e movimentos dos corpos presentes no espaço. Mas o som o faz através da janela acusmática dos auto-falantes / colunas de som que estarão na sala. Blu pensa muito nos ruídos. Para ele, os ruídos são a matéria plástica que, usada na paisagem-sonora, é composta eletroacusticamente. O interesse e meio de intervenção do artista dá-se pela sobreposição de improvisos, dilatando fragmentos de momentos captados transformandos em longos contínuos intercalados por surtos e espasmos sônicos – segundo os conceitos do artista. Além de participar do duo de arte sonora Koll Witz, Blu também trabalha em colaboração com diversos artistas como improvisador multi-instrumentista e compositor eletroacústico.
Daka fará a utilização do desenho-cego ou da pintura-cega no trabalho. Segundo as definições da artista, procura utilizar esta técnica neste contexto pelas razões que se seguem: o desenho-cego é um exercício de desenho muito conhecido e utilizado por artistas e estudantes em que consiste desenhar sem olhar para a folha, somente para o modelo, desnudando o gesto e a intuição, o que sobrepõe a expressividade e a carga emocional ao racionalismo do controle do desenho. Como um passo atrás o desenho cego proporciona ao artista uma luta entre o que ele sabe e o que ele agora já não pode prever. O desenho cego é ótimo para entrar em conexão com o lado direito do cérebro que dizem ser a zona responsável pela parte não concreta de nosso raciocínio, pelas intuições e noções de realidade ligadas ao imagético e ao sensitivo. Para ampliar os significados das formas nestes trabalhos em específico sobre a Loucura, a artista utiliza da descrição dos sintomas da Histeria, de seu poder corporal carregado de símbolos, símbolos os quais acusam a cultura e o indivíduo por meio de descargas e crises. Considera a sua carga histórica e cultural, encontrando nela parte do desenvolvimento do pensamento contemporâneo em cultura e em arte. Por meio dela procura fazer relações com etapas da vida humana num conceito universalizante e simbólico. São apresentadas pinturas exploradas pela necessidade de re-significação da imagem.
Já para Tizo o movimento é o culme da criação. Pensar no corpo é estar atento as capacidades expressivas do mesmo, estando elas no acto criativo feito presente , ou nas extensões materiais que o artista elabora e dissemina no espaço. “Qualidade da presença”, o corpo é o próprio acto de deslumbrar. Actualmente participa num processo investigativo de arte ,em Lisboa, no Centro em Movimento.
A proposta para ocupação do Espaço Braço de Prata, parte desta exploração da presença e do momento presente como leitmotiv da criação. Performance, situação. A pesquisa da iconografia deixada pelas pesquisas de Charcot, se manifesta não enquanto mimese mas sim síntese da realidade. A exploração é a loucura do acto criativo (dos momentos de ruptura, da cisão ) , da arte enquanto possibilidade de um discurso que confronte padrões estanques de comportamento e pensamento, pensando no corpo enquanto esta mídia de arte. Tizo será uma das pessoas a fazer as performances de dança/criação no espaço da Sala Wittgenstein, no Braço de Prata. O artista além de dançarino utiliza outros meios de intervenções no espaço urbano, alguns deles podem ser conferidos no sítio da internet que é referido ao final deste artigo.
As pessoas com um tipo de pensamento denominado ´diferente ´ ou ´subversivo´em relação ao pensamento dominante conhecem não de hoje a dificuldade em poderem se expressar de modo livre. Se nós, mesmo entre os pares temos dificuldades em comunicar-se a ponto de haver um verdadeiro entendimento, para entrar em conflicto com pessoas desconhecidas é um passo muito pequeno. Fica-se na zona confortável, mantém-se o espírito calmo se não se reflete sobre os próprios valores para poder compreender os valores dos outros. E a história da loucura na nossa sociedade ocidental muitas vezes passa por este viés, sem mesmo chegar a qualquer diagnóstico físico psiquiátrico, o louco é aquele que discorda – e pior ainda se este louco fosse uma mulher, há tempos atrás.Causa-me até certo receio pensar no que poderia ter-me acontecido se tivesse nascido na época e lugar errados. Penso que eu, como pessoa por vezes subversiva, sendo mulher, teria de adequar-me muito mais do que o tive de fazer, caso não quisesse ser submetida a sessões hostis como através da sugestão reviver traumas acumulados em uma vida densa.
Fica então aqui aberto o convite a todos os leitores para que visitem o Braço de Prata e vejam nosso trabalho. A parte da pesquisa dos desenhos ´fixos´e fotografias encontra-se em exposição de 11 à 31 de Janeiro, na sala Wittgenstein. Já as performances ocorrem dias 13,16, 23 e 27, que são quartas e domingos. Tragam seus medos, suas curiosidades e perguntas. Ficaremos contentes de compartilhar os nossos convosco.
Artigo: Anajara Laisa Amarante