Setembro 09

Joana Queiroz 

Retrato Número 0 - Fotografia

Em 2007 comecei a focar-me na conceptualidade, um campo que sempre trabalhei com muito gosto. Dentro da conceptualidade fixei-me num tema com diversas ramificações: o corpo humano e as diversas facetas que dele podem advir.

Em dois anos este projecto ganhou consistência: os retratos não mostravam só o corpo humano, nem partes dele. Mostravam criaturas, personagens que poderiam vaguear pelo imaginário da mente humana, seja ele sombrio ou luminoso.

Retrato Número 0 foi o nome escolhido para este projecto sair do anonimato. E sem definir o retrato número 0 cabe sim a quem olha com olhos de observador eleger o verdadeiro retrato. 

Joana Queiroz - Janeiro 2009






Inês Teles
Vórtice - Exposição de Desenho

A concepção plástica desta série de desenhos foi sustentada pela leitura da obra única e fantástica de Isidore Ducasse, Les Chants de Maldoror (1869). Interessou-me o insólito das imagens, o absurdo transcendente das metáforas, a visão de um mundo animalizado, sádico e sinistro tão característico do universo surrealista. No Canto Quarto, deteve-me a seguinte passagem:

«(…) Os meus raciocínios chocarão por vezes contra os guizos da loucura e contra a aparência séria do que não passa de grotesco(…); no entanto, cada um que apanhe moscas, ou mesmo rinocerontes, para descansar de tempos a tempos de um trabalho demasiadamente duro. Para matar moscas, aqui têm a maneira mais expedita, embora não seja a melhor: é esmagá-las entre os dois primeiros dedos da mão. A maior parte dos escritores que tratam a fundo deste assunto calcularam, com muita verosimilhança, que é preferível, em alguns casos, cortar-lhes a cabeça.»

A imagem da mosca, insecto repulsivo, capaz de detestável e determinada teimosia permaneceu latente no meu imaginário ao ponto, de eu própria me transformar na insuportável mosca que persegue e inquieta o outro. Um dia, na sala fria do atelier, tranquei as janelas e cerrei as portas. Hei me diante dela: a mosca. Aflita zumbia freneticamente e em simultâneo desenhava percursos curvos e irregulares. O silêncio, que surge com frequência em sinal de abrigo, instala-se apenas em breves momentos e irremediavelmente soam as pancadas ocas sobre o vidro da janela. Apesar da sua teimosia, a mosca é descoberta e nesse embate compulsivo e exausto, provoco o engano traiçoeiro ao insecto, que aprisiono num recipiente.  
Sobre o papel memórias desses caminhos, linhas encontradas no ar, percursos perseguidos na sala. 

*Isidore Ducasse (Conde de Lautréamont), Cantos de Maldoror seguidos de Poesias, Fenda Edições, Lisboa, 1988, pág. 113.






Rithika Merchant
Mundos dentro das palavras - Livros Escultura

Os livros são embarcações para as ideias que contêm. Os livros existem frequentemente simplesmente como símbolos das ideias que representam um pouco do que transportes verdadeiros do índice.

Meus Livros Exumados envolvem a alteração de media de preexistência que vem sob a forma dos livros usados. Eu transformo o formulário físico seletivamente removendo e revelando o índice para criar algo novo. Através da escavação meticulosa eu edito ou disseco um objecto comunicativo. Seu índice torna-se re-postos num contexto e os significados ou as interpretações novas emergem.

Nada dentro dos livros é re-colocados ou é implantado, simplesmente removidos. As imagens e as ideias são reveladas expr o livro escondido, memória fragmentada. A parte terminada expor relacionamentos novos dos elementos internos do livro exactamente onde foram desde sua concepção original.

Quando eu cinzelo em livros, eu penso dela nos termos de redefinir uma embarcação antiquada do conhecimento.  Os significados novos são derivados das imagens e das palavras deixadas expor. São lig junto visualmente. Estes livros representam uma interpretação original do que coloca dormente e esconde com sua estrutura original.






Isabel Ruth  
Rosa Leonor
Exposição de Pintura e Livros
Os desenhos que faço são um simples trajecto de felicidade, são horas de aventuras a desbravar caminhos tão incertos, onde não falta excitação nem deslumbramento, ingredientes que a felicidade engloba. São a tentativa de aproximação ao mistério da cor, uma perseguição em traços curvilíneos, na tentativa de descobrir novas figuras que me surpreendem, imagens inesperadas que surgem no papel. Gosto de sentir o deslizar suave do lápis, de me perder no acaso das cores, de seguir a intuição que me guia e ser absorvida pelo tempo, que me transforma e transporta para a dimensão eterna da minha alma, um estado de descanso com prazer...tudo isto é o que experimento quando faço os meus rabiscos.
        Isabel Ruth



AS EXPOSTAS - Livros  Isabel Ruth e Rosa Leonor
Pela simples razão de termos em mãos dois livros que escrevemos, Mulheres e Deusas de Rosa Leonor e Fotopoesia  meu, resolvemos juntar os papelinhos, em vez de trapinhos e fazer uma fogueira em Braço de Prata; não para os queimar mas para acender conversa e se possível espalhar fagulhas já que não há fôlego para mais.
Assim, este par de Deusas enfeitiçadas ( como é isso possível? ) vão estar expostas e dispostas a todos os ventos que soprarem por  estas bandas. Além do mais e com grande descaramento meu, exponho também alguns desenhos que faço na intimidade pois deu-se-me agora esta mania de fazer bonecos muito redondinhos e outras coisas, sabe Deus o gozo que me dá. Mas atenção, não sou pintora nem escritora, sou assim mais do género de coisa nenhuma e a minha amiga R.L. que fale por ela. Bom, o Braço é longo mas a Prata é da casa, apareçam se tiverem transporte …é claro! 
                                                                                     Isabel Ruth


O livro Mulheres & Deusas, baseado no Blogue do mesmo nome (http://rosaleonor.blogspot.com), é um livro que aponta um caminho de consciencialização da nova mulher dentro de um espírito pagão ligado a emergência de uma Ecologia de carácter sagrado, o sagrado da vida em si, associando-o a um percurso iniciático da mulher desde aos primórdios – a mulher como vidente, xamã e sacerdotisa - até aos nossos dias, como astróloga, actriz, poeta ou escritora, para a reconstrução de um novo padrão do Ser Mulher o de um feminino integrado e completo, que permita à mulher sair dos estereótipos que a dividem e aprisionam.

É por isso um livro de consulta e auto-ajuda sendo fruto de uma longa pesquisa da autora sobre a condição feminina no mundo desde os tempos mais remotos, com citações e excertos dos mais variados autores que corroboram a ideia fundamental do livro. O Mundo precisa, mais do que nunca, de uma mulher integral que evoque e dê voz ao poder das forças da Natureza e da Terra como inteligência viva e amorosa.

A autora escreveu dois livros de poesia e este, o terceiro e último, com textos variados sobre o Feminino sagrado.  
Rosa Leonor Pedro