Novembro 10

Press-release
Marco Fidalgo

“Sinais Contrários” - Desenho

Terra, paisagem, território, mapa, percurso, quotidiano – derivas que me conduzem num desenho.
Daqui surgem imagens que induzem por si só, à representação de um dado processo. Tendem inevitavelmente para a experimentação, através de linhas e formas provenientes de um universo pessoal interpretativo, envolvendo quase sempre um carácter de sobreposição ou formulando sistemas de deriva e acentuação que tendem para a transgressão representacional.
As ideias, representações prévias, que sendo subordinadas á prática do desenho, invocam através de um carácter manipulador da acção, um comportamento restaurado enraizado na norma; no comum - no quotidiano. Por vezes, é como que criado um paralelismo, uma segunda camada significante que se instalará permanentemente no discurso vasto da invocação.
As imagens da exposição «Sinais Contrários» são como as mais puras manifestações que sempre transbordam da suposta realidade. Derivam do quotidiano mais comum, envolto na espuma fina e claustrofóbica onde nos indicam estar(!), para um outro lugar - o da metáfora, aqui materializado pelo desenho.
Trata-se de um processo que se estabelece sempre em trânsito, e a sua visibilidade surge na passagem estreita que se dá entre a desmontagem de significantes. É aqui que o desenho tomará posse do signo, escavando-o no seu carácter mais funcional, e apoderando-se da sua carga denotativa mais pura. É esta relação de pura exploração que possibilita a transferência do poder intrínseco do signo para uma outra imagem, que, subtilmente transformada é depois embebida de novas e múltiplas conotações, podendo afirmar-se como alegoria da contradição.



Vem por aqui! – Dizem-me alguns com os olhos doces. (1)

A paisagem já não é nossa, está longe de nós, subsiste, isolada de tudo e de todos. Talvez nos estejamos a isolar dela, dos outros e de nós mesmos. 
Lutamos todos os dias por que nos deixem em paz, que nos deixem estar sós, que escolham por nós! 
Direita ou, esquerda? 
Lutamos pelo esquecimento qual cinderelas adormecidas na vida, na sociedade e no mundo. Alheios ao bulício do dia a dia, afastamos os olhos do tempo e trancamos a coragem em casa. Não vá ela causar problemas!
Que será feito dos velhos e destemidos descobridores? 
Que será feito das novas rotas e dos novos mundos?
Onde parará hoje, a herança ancestral do “Novo Reino que tanto sublimaram” ? (2)  

Estamos entregues nas mãos do outro, nas escolhas do outro, assumimos o comodismo em detrimento do exercício consciente do livre arbítrio. Cristalizamos a sensibilidade emocional, na esperança de despistar o sofrimento e a fluidez do tempo e, da vida. Preferimos o jardim secreto, em detrimento da beira-mar, do rebentamento das ondas, enfim, da exaltação da vida.
Observamos o chão com olhos de idólatra, com uma nostalgia perene, um sentimento de apoio eterno, isento de culpa ou consciência humana. Captamos a consistência da matéria, sabendo que enquanto idólatras, nunca herdaremos o verdadeiro Reino dos Céus.

Poderíamos estar a falar de política... mas não, estamos a falar de nós. De quem somos, de como somos, aliás, do Homem em que nos tornamos.  
Não somos partidários, não deixamos que decidam por nós! 
Somos revolucionários, somos diferentes, somos únicos, originais, clandestinos... caminhamos hirtos e orgulhosos,
...somos tudo aquilo que os outros nos deixam ser, tudo aquilo que não reconhecem que somos, mas que nos torna tão profundamente iguais.

Marco Fidalgo desafia-nos com uma realidade que se revela dual. 
Num tom que deambula entre o sarcasmo e a consciência dura da realidade social em que vivemos, explora novas possibilidades de construção de significantes que resistam à convencionalidade dos seus possíveis significados. 
Questiona toda uma sociedade baseada em ícones, poder capital e máscaras carnavalescas, através do recurso a uma linguagem metafórica de grande acutilância intelectual e emocional.
Enfrenta-nos com uma realidade desfocada algures entre a politica e o social, entre o partido e a arte, entre a esquerda e a direita, entre o obrigatório ou, o necessário. Desdramatiza a realidade, descodificando-a com base na sua própria vivência do dia a dia e numa inquestionável joie de vivre.
29 de Junho de 2010 - Fernando Almeida
  (1) Cântico Negro, José Régio
  (2) Lusíadas, Luís de Camões



Joana Hamrol

“Paisagens Reminiscentes” - Ilustração e Desenho

O Mar é avistado, respiramos a sua aura. Há uma extracção, um prolongamento proveniente de um projecto que fora realizado anteriormente no âmbito da Ilustração. Ao ter dado este Projecto(1) como terminado, algumas reminiscências perduraram – são memórias de memórias de representações à beira-mar, são paisagens marítimas em continuidade. Nesta apresentação predomina uma ambiência paisagística que passa tanto pelo abstraccionismo, como pelo figurativo e naturalismo. Elas tentam tranquilizar o espectador num ou em vários momentos, momentos estes que se transformam, desaparecem e/ou constroem passagens para a ilustração seguinte. É um projecto em constante modificação e evolução, as paisagens transformam-se e imaginam-se; todas elas nascem dum círculo criativo em que a memória, cada vez mais, se deturpa e se afasta da ideia original de uma paisagem marítima convencional.

(1) A Desintegração Humana Sobre uma Memória à Beira-Mar, realizado entre 2008 e 2009.






Artur Madeira
Paisagens “Rurbanas” - Desenho

A exposição consta de um conjunto de desenhos que pretende retratar uma determinada atmosfera existente em Lisboa, em que se misturam, na paisagem de fácies urbano, expectável na cidade, desconcertantes traços profundamente rurais.

Há algo de profundamente rural que paira na cidade. Às vezes muito escondido pela degradação e o abandono.

Mas muitas casas que poderiam existir algures no campo, sedes de uma qualquer propriedade agrícola, conservam uma aura e uma personalidade, que nos atraem.

Bairros possuem hortas, que ocuparam a várzea. São informais, orgânicas, mas têm um mapa organizado por quem as cultiva, resultado de acordos feitos ao longo dos anos, décadas, em que se regateou espaço para cultivar a couve portuguesa, as favas, as alfaces…

Os “bidons”, que deixaram de ser de chapa e passaram a ser de plástico, mantêm o colorido, marcando a paisagem e denunciando a “divisão da propriedade”. São os reservatórios de água de cada courela.

As casas antigas soçobram ao lado das avenidas, de esguelha, por vezes à sombra de depósitos de contentores com 4 ou 5 andares, que ali aterraram. 

Freguesias citadinas desvendam estes segredos, sendo que os “graffiti” percorrem paisagens sobrantes, marcando-as e trazendo para o presente fantasmas dos tempos rurais.

Estas casas, estes edifícios, estes muros antigos bradam por nova vida e foi isso que motivou esta exposição e a necessidade de partilhar estas imagens a preto e branco de paisagens antigas, com todos aqueles que certamente todos os dias passam por elas e que geralmente nelas não reparam.

Lisboa, 26 de Outubro de 2010