Janeiro 2011

Mário Vitória
“Icarus Inside”
Paulo Azenha
“Le claqueur des doigts” - Desenho
Carlos Morganho
“Mouraria” - Exposição de fotografia
Paula Abreu
“Sábado, Domingo e outros dias” - Fotografia
Catarina Coelho
Tiago Lança
“TRADUTTORE, TRADITORE!” - Desenho


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Mário Vitória
“Icarus Inside”
Braço de Prata por Mário Vitória

Para o Braço de Prata desenha-se uma exposição de resgate à mitologia, passando pela situação económica contemporânea, pelos bichos-Homens, ao Portugal perdido de horizonte (mar), constroem-se as obras necessárias a uma exposição satírica e sem dúvida conflituosa nos significados que gera.

Assim:
Na sala Deleuze 3 peças sobre Ícaro:

O objectivo deste projecto passa por convidar o espectador a rever aspectos quotidianos através de uma lente mitológica, reeditando a história mitológica de Ícaro.
Este contexto simbólico assume-se, em alguns momentos, revolta ao mundo dos adultos na sua  dimensão mais moralista e educacional que continua a encarar a infância como um processo rápido de transição para uma vida futura. A ânsia de moldar entidades recentes de mundo parece ser uma necessidade e uma estratégia contemporânea de produto.
“O menino Ícaro” fala de um esforço. Amarrado às penas pelo pai,  imagina rodas que não existem estendendo as suas asas. No meio deste engendrar, de reactualizar e subverter mitos ou estórias, manteve-se a arqueologia do traço para a simbologia destes propósitos. Aquela que contorna, marca, sulca e divide.
Queria a “pintura a traços” com o seu título feito de estrangeirismos “Icarus Inside” urrar a quem passa:  para além das asas arranjem-lhe um pára-quedas, mas deixem-no Voar até derreter as suas asinhas, beber a diversidade das águas salgadas e profundas até se afogar, regurgitar aos homens a diversidade dos oceanos ao mesmo tempo que relata os bafos quentes dos céus mais belos da sua atmosfera!
Assim nasceu o esboço para “Icarus Inside”. Uma acção mitológica nos seus três gloriosos momentos: 
fuga, felicidade e tragédia. Nasceu um “não sarcástico” que recusa à tragédia os seus explícitos  moralismos.



Site-specific
Mário Vitória
Na sala Rilke uma pintura sobre tela e pintura na parede:

A proposta de exposição para a sala Rilke segue dentro de duas grandes linhas de pensamento teórico-prático que rege o meu trabalho para o ano de 2011 e parte de 2012: “Escrevendo no verso das folhas” e “O mar português é uma conta que deus não fez”.
Apesar da identidade satírica da especificidade plástica já reconhecida à minha pintura, a proposta conta com a especificidade reconhecida a esta sala do Braço de Prata: Exposição - instalação - experimentação. Por isso algumas peças estão próximas do “diorama”, onde a pintura se confunde/relaciona com o próprio suporte que é a tela.



Paulo Azenha
“Le claqueur des doigts” - Desenho

Todo um repertório poético de Serge Gainsbourg
Que alia o Humor à Inteligência e 
a Subtilidade à Coragem.
Frenético. Mágico. Radioso…
Ela é a musa do Poema 

Paulo Azenha, que se encontra a residir em Paris actualmente, tomou conhecimento do seu legado artístico numa perspectiva de compreender todo o mito e fama em redor da sua pessoa e simultaneamente da sua obra.
Da tentativa de descodificar os seus poemas à paixão pelos seus textos surpreendentes, nem sempre foi um passo fácil ou imediato.
Mas que consolidou uma admiração total e irrefutável por Serge Gainsbourg, o homem artista que viveu a sonhar com a perfeição sonora.
Cada poema ilustrado, representa na íntegra o texto original de Gainsbourg, repetindo-o inúmeras vezes, de forma a construir a Imagem pretendida.
A Mulher é a principal fonte de inspiração e o suporte das inúmeras sensações, expressões e vibrações expressas em cada uma das palavras que compõem os poemas.
Composições originais, todas numeradas cujo nome de baptismo é o mesmo do poema seleccionado.
Serge Gainsbourg foi um talentoso músico francês- cantor e compositor, assinando uma obra virtuosa revestida de diversos ritmos e estilos.
Produziu muitas músicas para filmes e trabalhos que vão do Jazz ao período yé-yé, passando pelo rock ao reggae.
Entre várias mulheres e cantoras que interpretaram as suas composições conta-se a presença de Jane Birkin, Brigitte Bardot, Françoise Hardy, Catherine Deneuve, Juliette Gréco, Vanessa Paradis, entre muitas outras.
Foi também actor e cineasta.
No entanto, o seu maior personagem foi ele próprio.
Viciado irrecuperável em cigarros, álcool, mulheres e versos com temas polémicos, ele coleccionou sucessos, escândalos e amantes durante toda a sua vida.



Carlos Morganho
“Mouraria” - Exposição de fotografia
É impossível resistir e não regressar. Neste bairro há algo que nos agarra e nos faz voltar, sempre com a sensação mágica que estamos a descobrir o mundo todo ao virar de cada esquina. Voltar dia após dia e caminhar pelas mesmas ruas, reencontrar caras conhecidas e descobrir novos amigos, os mesmos mas sempre novos, com a sua infindável palete de cores, cheiros e sons. 
A Mouraria tornou-se quase um vício - e fotografá-la também. Aos poucos torna-se natural, misturamo-nos, conversamos, convivemos e depois de tanto tempo já não somos «um-estranho-de-máquina-em-punho». Este bairro castiço, berço do fado e agora transformado em exemplo de multiculturalidade, provoca-nos a cada passo que damos, com as suas histórias e com a riqueza das suas diferenças.
Por tudo isso, o maior desafio foi mesmo o de contar a história deste bairro, da sua gente, da sua vida e actividades - das procissões à mesquita, das ruas às casas onde nos recebem, das oficinas às tascas - em apenas 24 fotografias. Como é que se faz caber aqui o mundo inteiro?




Paula Abreu
“Sábado, Domingo e outros dias” - Fotografia

Observo a cidade num qualquer dia. Caminho parada e o som do silêncio de pessoas no seu movimento capta a minha atenção. Observo de longe, raramente de perto, para não interferir nas imagens que, as pessoas na paisagem tornam intemporais, em Sábados, Domingos e outros dias. 
Gentes deslocam-se e param e a sua silhueta em movimento ou parada denuncia, como num rosto, uma expressão. Observo as pessoas na cidade e o diálogo do seu corpo com a paisagem que incorporam. Nesse diálogo existem pensamentos e sentimentos, que não escuto, intuo. E como num palco, depois de o pano abrir, o espectador torna-se parte integrante da cena. Já não observo de longe. Pela câmara cavalga a minha alma e sinto o pulsar da vida da cidade num instante intemporal que cristalizo.
Estou parada, caminhando na cidade intemporal pelo rio que a desenha e junto às árvores que a alimentam. O som do silêncio de pessoas no seu movimento fora aquilo que primeiro captara a minha atenção. Depois, parto em movimento, como elas, na cidade, em Sábados, Domingos ou outros Dias. 

Maria Paula Abreu





Catarina Coelho
Tiago Lança

“TRADUTTORE, TRADITORE!” - Desenho

Dois factores complementares deram início ao projecto Traduttore, Traditore!: a vontade de representar Roma como tema e a impossibilidade temporária de a ela nos deslocarmos.
Recorremos, por isso, a um tipo particular de memória imagética: uma colecção de diapositivos do património arquitectónico e escultórico da cidade, imagens cinematográficas e outras referências do classicismo romano.
A opção por estas imagens típicas permitiu-nos limitar o material a um conjunto finito de elementos, assim como introduzir no trabalho uma especificidade qualitativa do tempo a que remontam as imagens.
Num primeiro momento de experimentação procurámos expressões latinas que se adequassem ao contexto visual escolhido, intervindo em simultâneo no suporte: um desenhava, outro inscrevia. Do eco dessas palavras, cuja presença tantas vezes nos passa despercebida, foram surgindo títulos, novas direcções e propostas visuais.
O processo consistiu numa operação de tradução cujo resultado é um exercício de desenho em que pequenas traições transformam o referente e o modo como ele é entendido.

Sufficit

Em Sufficit, uma das séries de desenhos que integram este projecto, anotámos elementos e omitimos os espaços em que estavam inseridos: as nuvens delimitam as arestas do corpo arquitectónico; as linhas do pavimento e as demarcações dos passeios flutuam para assinalar o chão; a ausência do fuste denuncia o capitel; o plinto invisível sustenta a estátua.
Ao gravar a superfície deixámos que o vazio manifestasse a sua austeridade. Optámos por uma representação que não pretende ser um entendimento universal ou totalizador mas sim um mapa volúvel, feito de sugestão e investido do carácter da possibilidade. É a essa possibilidade, que o suporte e a linguagem do desenho concedem, que nos dirigimos.