FEVEREIRO 2012




Teresa Almeida Rocha 
“(in)consciente”- Exposição de Pintura
Anabela Canas
“You are my fantasy”- Exposição de Pintura
Nuno Moreira 
“From Russia With Love”- Instalação/Vídeo
Ricardo Valentim
ESPAÇO-TEMPO E OUTRAS COISAS
- Site Specific/Work-in progress (Fevereiro-Março)



Teresa Almeida Rocha
“(in)consciente”- Exposição de Pintura
De que eu, vens?

Teresa Rocha. A pintura, como um imperativo. Um “Livro do desassossego” sem o modesto ajudante de guarda-livros lisboeta, Bernardo Soares; antes transportado, num recatado quase anonimato, por uma “simples” psicóloga. Alguém que pega nos pinceis e interroga. Um jogo plástico consciente/inconsciente; uma ponte contida entre o “eu” e o “outro”. Alter e ego; alter ego, quem sabe. Às vezes um tsunami, outras mansas águas.

Antes, espreitava/escondia-se/​mostrava-se por detrás de janelas, a chuva de palavras lá fora, uma mensagem cifrada vinda de dentro, bem das ruas da alma. Os tons escuros, misteriosos acrílicos de memórias baças, de futuros sem azul… Porém, aos poucos, as janelas foram-se abrindo e havia sol. Risos, em vez de lágrimas. Cores, em vez do persistente negro. O branco, em fundo.
Geometrias. Seres inominados. Abstracções, ainda, sim, mas grávidas de Luz.

Teresa Rocha aceitou a maré. Devagar, suavemente, sem tomar consciência. Cada novo quadro, uma surpresa. Uma interrogação ao contrário – quem és tu? Mas também: de que eu vens? De que outros falas? Que nova geografia de emoções é esta? As perguntas estão aqui, expostas nestes novos e surpreendentes quadros da pintora. Basta olhar. Abstracções? Talvez. Mas suaves, com sentido.

“Era uma vez uma folha em branco. Olhei para ela e fui reconhecida. Pintei-a exactamente como me disse, mesmo sem ouvir a sua voz. Surpreendeu-me o resultado. Não importa, é este, agora, o meu desassossego. Partilho-o convosco, meus amigos”. Eis o que nos diz Teresa Rocha. Não deixem de a ouvir.
Mário Contumélias




Anabela Canas
“You are my fantasy” - Exposição de Pintura
Sinopse:

A imagem franca

Utilização de um fragmento do corpo masculino como palco para uma ambiguidade de leitura assente em vários aspectos ligados projecção da identidade no olhar do outro. Por um lado a escolha do torço masculino, tem como base a ausência de atributos sexuais evidentes, e, mais conotados ou mais impositivamente distintivos no corpo feminino, como os seios, que poderiam remeter para um território mais especificamente sensual ou maternal ou simbólico, Por outro lado o corpo feminino é mais desgastado como objecto de figuração, e mais estereotipado como objecto de figuração de desejo.
O enquadramento que exclui o rosto afasta a hipótese de individualização da figura representada. Retirando-lhe a identidade inerente à caracterização do rosto, por um lado, e o território de figuração de emoções, por outro, acresce um carácter genérico ao facto de a pose do tronco ser assumidamente frontal, simétrica, franca, neutra, exposta, passiva, sem qualquer teatralidade, sem qualquer intencionalidade que humanize a figura representada. Um enquadramento mais nítido como atitude, reflecte um olhar concreto. E uma relação de ocupação que remete mais claramente para relações de espaço e tempo. Tanto mais que esta, de certo modo pretende apresentar-se como figura desligada de um objecto de representação. Solta e plana, e como tal disponível para encarnar a ficção produzida no espectador (ou pelo espectador). Pretende apresentar-se como objecto de contemplação ou de reflexão ou de representações mentais, ou de identificação por parte do espectador e não como representação de um sujeito anterior a ela.
O corpo como objecto de desejo e, sobretudo como objecto de identificação para além dos estereótipos de género. E não o corpo necessariamente como sintoma de género. O corpo como palco ou território de identificação.

A imagem dúplice

Por outro lado a imagem pretende apresentar uma candura e uma franqueza que comece por iludir, mas que em última instância se transforme em palco de dúvidas. A própria androginia de algumas das figuras faz parte dessa candura aparente. Ela é como é, e como se apresenta mas possui um elemento que desloca de forma instável a leitura. Assim, ela já não é como é, ela não é quem mostra ser, porque é dupla e equívoca. O jogo da frase é o segredo da frase. Quem é o eu e quem é o outro, numa expressão que começa por criar dificuldades na atribuição da autoria. Quem é o narrador, quem é o destinatário e em que medida estes dois sujeitos se identificam com os dois níveis de leitura apresentados pela imagem masculina e pela peça de roupa (feminina de acordo com códigos tradicionais, e instituídos).
Existe um sentido que advém da apresentação de cada imagem e, supostamente, um sentido que se lhe acrescenta vendo a imagem como parte de um conjunto em que esta evolui de forma adaptável ao espaço em que aparece integrada. O aparecimento de elementos caracterizadores em cada uma delas, dá-lhes um carácter camaleónico, como se mudassem em função do ambiente e se acrescentasse um elemento de ambiguidade.



Nuno Moreira
“From Russia With Love”- Instalação/Vídeo

Este projecto é uma reflexão sobre a Rússia como um dos países mais desconhecidos ao mundo ocidental, abordando especificamente a queda do comunismo e o reflexo directo na sociedade actual.
Sendo a Rússia o país que ocupa maior extensão territorial do globo faz sentido pensar o seu posicionamento sócio-económico após a libertação da Europa de leste. 
A instalação «From Russia with Love» pretende questionar a importância de heróis nacionais Russos, caso de Estaline e Ivan Iv (o Terrível) como figuras chave no desenvolvimento - ou entrave - cultural deste povo.
A motivação do autor surge após uma intensa viagem pela Rússia onde teve oportunidade de contactar directamente com o povo e descobrir um pais imperial que após a dissolução da União Soviética ainda se encontra marcadamente fechado à Europa.
Essencialmente, «From Russia with Love» é uma homenagem à Rússia e ao cinema de Eisenstein. 
Um paradoxo entre o enorme potencial de um império construtivista e as consequências da massificação de ideais totalitárias.
N.M.


“If there is a country in the world which to other countries, distant or contiguous, is more unknown or unexplored, more than any other country enigmatic and mysterious, this country is undoubtedly Russia.”
1861, Fyodor Dostoevsky

IMAGENS DO NEVOEIRO

Que ideias fazemos da nossa cultura? Que ideias fazemos ao levar connosco os nossos padrões culturais para a visita a um país distante? Um indivíduo não pode ter a noção total da cultura do país em que está inserido, apenas tendo acesso ao conjunto de elementos dos quais faz parte ou com os quais se relaciona ou estabelece uma relação de aprendizagem. Por outro lado, ao viajar, apreende apenas aquilo que consegue reter num curto espaço de tempo. Não só uma cultura se manifesta de forma heterogénea e parcial, como quem a apreende tem em si mecanismos que filtram aquilo que diante dele se manifesta.
Tendo isto em mente, viajamos para a Rússia, com amor na bagagem... terra cheia de mitos para nós, território frio e longínquo, rico em lendas e conturbadas narrativas históricas. O que se nos aparece aos olhos é sempre filtrado por estas e outras ideias que levamos connosco. Nuno Moreira está habituado a manter os olhos abertos, como captador de acontecimentos visuais, mais do que de meras imagens. E o que viu naquele norte foi um cruzamento de dois tempos num só. “From Russia With Love” fica assim entre as marcas de uma ideologia totalitária de glória gasta e os resquícios de uma mentalidade que ainda acredita na sua viabilidade. Ficam os registos visuais da impossibilidade de tal coexistência, num romantismo quase “sebastianista”, se comparado com o cenário português de quem ainda acredita que “no tempo do Salazar é que era bom”... Alguém ainda os/nos salvará?”
Miguel Matos

BRINCAR AOS POLÍCIAS E LADRÕES

“Viajar pela Rússia de forma livre e compulsiva, é como se desmascarássemos um pouco toda a sua estrutura social e cultural sempre tão sólida aos nossos olhos.
As coisas funcionam a troco de incentivo, onde o perigo não está no ladrão mas sim no policia. Isto se quisermos brincar aos polícias e ladrões, o que em terras ex-soviéticas não convém muito.
As máscaras estão todas trocadas numa sociedade que escolheu o poder de massas e que tem agora o poder do incentivo. A confiança faz-se mais entre pessoas desconhecidas do que com autoridades conhecidas.
A melhor das viagens é aquela que quando começa, se tem logo a sensação que nunca mais vai acabar e esta para mim ainda não acabou.”
 Hugo Travanca (companheiro de viagem)






Ricardo Valentim
“ESPAÇO-TEMPO E OUTRAS COISAS”
- Site Specific/Work-in progress (Fevereiro-Março)

“[...] Olhamos um quadro de onde um pintor nos contempla. Essa ténue linha de visibilidade envolve em troca, toda uma rede complexa de incertezas, de trocas e de evasivas. Nós estamos no lugar do seu motivo. Nós, espectadores, estamos em excesso. Acolhidos sob esse olhar, somos por ele expulsos, substituidos por aquilo que desde sempre se encontrava lá, antes de nós: o próprio modelo. Mas, inversamente, o olhar do pintor, dirigido para fora do quadro, aceita tantos modelos quantos espectadores lhe apareçam.”
In As palavras e as coisas, de Michel Foucault

Esta instalação veicula uma série de ciclos de acontecimentos cujos registos físicos e mentais pretendem servir de dispositivo para uma descoberta activa de significados e de sensações. O conjunto destes registos, entendidos como inscrições, é a história de um lugar itinerante que leva consigo as convergências do percurso.
A soma de experiências possíveis e a hipótese de projectar uma memória, mantêm em aberto a nossa existência.
A redundância é contrariada pela ampliação de possibilidades e o sentido indeterminado e impermanente reflecte o carácter transitório do processo.


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Continuam

Anna Stankiewicz Odoj 
“In between”- Exposição de Pintura








Pintar é penetrar a ideia de viajar entre as culturas, é seguir a imaginação e os sonhos.
Esta viagem é a minha história pessoal, contada de forma onírica, cheia dos arquétipos e símbolos da realidade pós-moderna em que vivemos. Enraizada na consciência colectiva.
Pintar é comunicar para sobreviver, para salvar o que é humano.
A pintura  é  o  refúgio...



FEMINAE
Exposição colectiva de fotografias de Autores Checos

A exposição colectiva FEminae apresenta uma selecção de obras de quinze fotógrafos checos, ou filiados na República Checa: Andre Heinlein, Boris Guljajev, Daniel Hauser, Ivan Mladenov, Jan Černý, Jiří Růžek, Karel Housa, Květoslav Vršovský, Ladislav Nekuda, Lenka Čečilová, Lukáš Dvořák, Martin Iman, Michaela Kročáková, Miloš Burkhardt e Václav Adam. O grupo surgiu à volta do portal on-line de fotografia Fotopátračka que agrupa fotógrafos amadores e alguns profissionais que se dedicam à fotografia, cujo tema principal - sem ser exclusivo - é o corpo humano. Este grupo de autores reuniu-se pela primeira vez em 2009 na exposição colectiva Ano da Fotografia Não Comercial Checa e Eslovaca em Praga. Alguns destes fotógrafos participaram também na exposição colectiva Instinto Básico no âmbito do festival de fotografia Prague Photo em 2010, e na mostra Fotopátračka.cz, na mesma feira em 2011. Algumas das imagens patentes nesta exposição foram distinguidas no concurso organizado pela revista checa Instinkt. Este conjunto de fotografias pôde ser visto em Portugal nos passados meses de Agosto e Setembro em exposições organizadas em Lagoa e Monchique.

A exposição oferece um leque diversificado de olhares sobre o corpo da mulher nas suas mais variadas perspectivas. Algumas imagens de Lukáš Dvořák ou Ivan Mladenov que trabalham com poses estilizadas de modelos aproximam-se da fotografia de moda ou glamour. Por sua vez, histórias do corpo fechado no seu mundo interior, captadas como por acaso, são características para a série “Do Interior“ de Miloš Burkhardt, para os autoretratos de Michaela Kročáková ou para os estudos do movimento feminino de Martin Iman. O corpo da mulher em atitudes fortes ou cruas ou em poses provocantes é revelado em algumas fotografias de Jiří Růžek ou Jan Černý. A mulher da série “Cosmic“ de Václav Adam é por outro lado despersonalizada, captada num momento que permite entrever uma história mais ampla. Ladislav Nekuda transpõe a fronteira da fotografia criando uma série de “quadros fotográficos”, inspirados no corpo humano. Květoslav Vršovský ou Karel Housa interceptam nas suas imagens uma perspectiva lúdica de alguns detalhes do corpo feminino. Não é segredo que muitos dos autores aqui apresentados visitaram nos últimos anos Portugal, cuja paisagem e ambiente inconfundíveis serviram de inspiração a algumas das imagens expostas. O corpo da mulher em interacção com a paisagem gera erotismo, tensão e um toque de fantasia nas fotografias de Andre Heinlein e Daniel Hauser. Por fim, para Lenka Čečilová o motivo principal das suas imagens é a própria paisagem, sugestiva e sem a presença do homem.
LL